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SI NHA TERRA TINHA TXUBA...

"Na noz terra ka tem so morna ku koladera també tem munti aznera ki ta barredu pa baxu stera".

Buddha, na Kem ke Buddha

Ami é di tempo ki na C.V. porta ta fikaba aberto pa kem ki kre entra konbersa toma um pratu di kumida ou simplismenti dexa bentu korri. ami é di tempu ki nu ta brinkaba na rua tudu tipo brinkadera ki tinha sem medu sem pressa. antiz di mi era inda maz sabi na kel pontu la. ma terra muda munti kuza perdi munti kuza straga ma també munti kuza muda pa midjor. Saber mais...

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Mandjakus, os «pretos» de Cabo Verde

"As vendedeiras ameaçavam-no de que nunca mais lhe dariam o seu voto se ele permitisse que os manjacos ocupassem os espaços da referida praça."

Gláucia Nogueira, revista África 21

Estratégias, sentimentos e o dia-a-dia em Cabo Verde de imigrantes de países do continente africano, bem como as atitudes dos cabo-verdianos face a eles são temas em torno dos quais gira uma dissertação de mestrado defendida recentemente na Universidade de Cabo Verde.

«Mandjakus são todos os africanos, todas as gentes pretas que vêm da África: estigma e xenofobia em Cabo Verde». Este o título do trabalho elaborado por Eufémia Vicente Rocha, uma dos sete novos mestres em Ciências Sociais que a Uni-CV formou no início de Março, e que faz parte da primeira «fornada» que resulta do mestrado criado há dois anos em parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Brasil.

Segundo a autora, apesar das formas de exclusão existentes, não há, por enquanto, guetos nos bairros onde se concentra a comunidade imigrada, e a população local é sempre maioritária.

O Sucupira, mercado de roupas e de um pouco de tudo, é o local principal de comércio e contactos com outros imigrantes. Neste momento, refere o trabalho, começam a surgir as primeiras associações e há uma luta pelo reconhecimento.

Entre as conclusões da investigadora, aparece o facto de que a pobreza não é o único motivo de migração. «Há um sentimento cosmopolita, há pessoas que já viveram em vários países e se imaginam a contar as suas viagens quando regressarem à sua terra». Não há uma única motivação, infere.

Nas relações com os locais, o título da tese estampa logo de cara o genérico mandjakus, nome de uma etnia da África Ocidental mas que se tornou habitual em Cabo Verde para aludir a todos os africanos continentais. E fica a ideia de que o país que se intitula da «morabeza» (palavra do crioulo para definir algo entre a receptividade, a hospitalidade e a simpatia) a reserva apenas para os turistas, já que os cabo-verdianos tratam os seus imigrantes africanos como eles próprios são tratados na Europa ou outros noutros países em que a discriminação faz parte do seu dia-a-dia. Mandjakus são os «pretos» dos cabo-verdianos.

Três dias depois da apresentação desta dissertação, Onésimo Silveira, antigo presidente da Câmara de S. Vicente, recorda, no jornal A Semana, a época da sua gestão, quando preparava uma praça da cidade para receber pontos de comércio. As vendedeiras ameaçavam-no de que nunca mais lhe dariam o seu voto se ele permitisse que os manjacos ocupassem os espaços da referida praça.

«Mas quem eram os manjacos? Manjacos da Guiné, manjacos do Senegal, manjacos do Gana, manjacos da Nigéria… Manjaco era todo o negro africano», escreve Silveira, num texto em que acusa a hipocrisia da sociedade cabo-verdiana sobre este assunto.

Mesmo depois de, com a independência, os valores africanos passarem a ser valorizados, escreve, «na liberdade afirmamos a nossa identidade nacional, sem todavia extirpar os preconceitos que subjazem no nosso comportamento social como uma praga hereditária».

Fonte: africa21digital.com

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